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Ecos da Astrofesta ’97

“ad futuram memoriam” ou “para memória futura”, dois textos, um de Carlos Reis e outro sobre a Astrofesta de 1997 em Serpa realizada nos dias 6 e 7 de Setembro desse ano, publicado numa mailing list de um grupo de astronomia.

From: “Carlos Reis”
Subject: Ecos da Astrofesta 97
Segunda feira 8 de Setembro de 1997

Astrofesta 1997 Serpa
Astrofesta 1997 Serpa

Olá a todos,
Ainda mal refeito de uma viagem de 5 horas (um pouco penosa) e cerca de 36 horas sem dormir cumpre-me igualmente fazer um balanço da Astrofesta 97 em Serpa no Alentejo profundo.

Como em todas as coisas há sempre aspectos positivos negativos da questão aos quais damos maior ou menor importância conforme a nossa consciência ou interesse.

De qualquer forma apraz-me aqui registar de muito bom agrado, que esta Astrofesta valeu pela quantidade e qualidade de equipamento apresentado, (sim senhor, parecia ja uma daquelas SP que vemos na S&T).

Uma vez mais o céu do Alentejo não desiludiu, com uma ligeira neblina urn pouco acima do horizonte, mas no zênite encontrava-se praticamente limpo, permitindo observar objectos do céu profundo que raramente se vislumbram com tanta nitidez nas cidades ou na nossa zona costeira. Pena também que o local escolhido apesar de excelente quanto a infra-estruturas. desse possibilidade de manter algumas luzes acesas durante a maior parte da noite, prejudicando como é obvio as condições de observação pelo menos no local que me tinha sido atribuído.

Valeu ainda esta Astrofesta pela camaradagem, companheirismo dos astrónomos amadores presentes, que souberam aproveitar o encontro para trocar idéias, experiencias tirar duvidas e realizar outras actividades no âmbito da divulgação da Astronomia em Portugal.

Valeu ainda esta Astrofesta pela presença do ministro Mariano Gago que veio a titulo particular, mas que não deixou de constatar uma realidade bem evidente:
O crescimento da ASTRONOMIA DE AMADORES esta boa saúde.

Valeu ainda esta Astrofesta pela quantidade de pessoas que aderiram a esta iniciativa, calculo que mais de um milhar, o que não deixa de ser um óptimo indicador do trabalho que tem sido realizado pelas associações de A.A.

Pena foi que alguns dos que nos visitaram, não tivessem tido a melhor das intenções “subtraindo“ algum equipamento que se encontrava em exposição.

Valeu ainda pelas ilações que se podem tirar do aspecto organizativo de tal iniciativa, que se sabendo antecipadamente não ser “pera doce”, não contou com a participação activa de pelo menos uma das associações envolvidas, apesar desta ter manifestado a sua disponibilidade.

E é assim aprendendo com os erros e melhorando os aspectos positivos que todos vamos construindo a nossa A.A. em Portugal.

Destaque igualmente para a ANTENA 1 que foi a par da TVI dos poucos senão os únicos orgãos de comunicação social a estarem presentes. Apesar do trabalho apresentado não ter sido famoso, ainda assim foram os únicos!

Infelizmente as nossas estações de televisão de maior audiência, continuam preocupadas com a morte da Diana, as intrigas da corte britânica e outras telenovelas de cordel, não dando a menor importância a um acontecimento cultural e cientifico único em todo o Pais.

Não admira que continuemos na “cauda da Europa” em muitos aspectos.

Concluindo apesar de tudo, valeu a pena esta Astrofesta, quer pelos aspectos positivos quer pelos negativos, pois e com eles que podemos corrigir e melhorar significativamente estes encontros anuais de A.A.

A ASTRONOMIA DE AMADORES em Portugal será aquilo que quisermos, está nas nossas mãos manter a sua boa saúde de forma a coloca-la no lugar de destaque que honradamente merece.
Carlos Reis

Astrofesta Opiniões

Este texto foi publicado na mailing list da RNOA e na Astro-Port no dia 13-9-97 e o seu autor foi João Clérigo.

Após uma semana da Astrofesta deste ano, realizada em Serpa, cabe-me a mim tecer os meus humildes comentários. Acho que é assim, analisando friamente todos os aspectos que podemos melhorar futuras Astrofestas.

Todos temos a consciência que nem tudo correu pelo melhor nesta Astrofesta (a julgar pelos comentários na Astro-Port e RNOA ML), mas também houve os lados positivos.

Começo pelos positivos, não posso deixar de concordar com os vários colegas nos seguintes aspectos:

  • Ausência de poluição – Sem dúvida que adorei observar os mais variados objectos no céu de Serpa, estou agora a lembrar-me do M13 e do M27 que estavam um espanto. Em minha casa também consigo um céu tão escuro como o de Serpa, mas estes objectos aparecem mais difusos e menos definidos, penso que o elemento causador deste efeito e sem dúvida a poluição atmosférica de gases.
  • O terreno relvado – Óptimo para os equipamentos presentes o chão estar relvado. O nível de poeiras no ar estava bastante reduzido, permitindo assim que muitos arriscassem a levar o seu equipamento.
  • Artilharia (telescópios e acessórios) – Este ano estava incomparável ao anterior no número de telescópios, lunetas e binóculos presentes, dos mais variados tipos. Não só em qualidade, mas pelo seus tamanhos, ano após ano, os equipamentos apresentados são cada vez maiores (será das vitaminas?). Acessórios não faltavam a estes bichinhos, desde serem ou não motorizados, com filtros convencionais a especiais, da CCD à câmera fotográfica, etc.
  • Artilharia (outros) – Multimedia e Vídeo, algo de inovador este ano nesta Astrofesta. Depois da experiência muito positiva durante o programa ASTRONOMIA NO VERÃO neste campo, foi também muito positiva nesta Astrofesta. O acesso à Internet grátis, pode privilegiar mais de 40 cibernautas e uma assistência incontável, passeios pela net no campo da astronomia. Outros computadores que estiveram presentes com enciclopédias disponíveis para consulta e outros simplesmente a passar centenas de imagens de Marte, que aos quais também afluiu bastante publico. Na questão dos vídeos, também foi muito positivo, lembro-me de ver sempre a tenda do MCUL cheia de espectadores. A televisão posta à disposição pela RNOA também não se ficou muito atrás, apesar de uma platéia muito menor, espectadores não faltaram.
  • Tendas – Não podia deixar de louvar o MCUL pela sua tenda. Maravilhosa, serviu concerteza bem para os propósitos para ela predefinidos. As restantes azuis e triangulares, serviram bem para o pessoal dormir umas “sestas” e arrumar algum material.
  • Piscina – Grande idéia! Maravilhou bastante os que dela puderam desfrutar, pois esteve muito calor.
  • Controlo de Entradas – O local estava vedado, o que era óptimo para controlar as entradas.
  • Público – O nível do publico em geral também aumentou, participou muito activamente.
  • Comunicação Social – De louvar a presença da Antena 1 (que para quem conhece sabe bem que apoiam muito este tipo de acontecimentos) e a TVI.
  • Organização – De destacar o Prof. Máximo Ferreira, que na minha opinião foi a verdadeira “cabeça” desta Astrofesta.

Acabados os aspectos positivos de que me lembro e pude observar, vou passar aos negativos, que muito temem em apresentar. Também sei que criticar é fácil, fazer é bem pior, mas sem se saber o que correu mal, não se pode corrigir na próxima vez, certo?

  • Luminosidade – Ao contrário do local de Aljustrel, o local de Serpa nunca ficou totalmente as escuras. Boa tentativa em apagar as luzes da via publica as 24:00, mas este efeito teria sido mais compensador se: as luzes da piscina também fossem totalmente desligadas; se a RNOA estivesse numa tenda para que as luzes dos PCs e televisão não incomodassem; se a tenda do MCUL fosse preta ou escura e ainda que estivesse com as “portas” fechadas durante a noite.
  • Árvores – Sim, sou adoro a ecologia, mas estas arvores estavam num sítio muito mau.
  • Comes e Bebes, Higiene – Os maiores sofredores desta falha foram os monitores das Associações presentes. O local mais próximo disponível para comer, beber e para se realizar as necessidades mais básicas (desde lavar as mãos até … bem vocês sabem) estava a uma distância assustadora que dissuadia qualquer um, levando algumas pessoas a terem de “regar” a relva durante a noite. Os mais esfomeados lá tiveram que, ou levar comida para o local antecipadamente, ou, levar um ajudante para o substituir no seu equipamento, ou, ter mesmo que arrumar o equipamento para fornecer uma visita alimentícia ao estômago. Isto podia ter sido evitado se os “donos” da piscina tivessem facultado tanto os lavabos como um “atalho” para o seu bar. Bolas, era só um dia e meio, custava assim tanto?
  • Tendas e Campismo – Talvez tenha sido alguma descoordenação, mas com a RNOA ocorreu algo de ilógico que ainda não consegui compreender. Para a RNOA foi solicitado rede telefónica para colocar um posto de acesso a Internet. Sem dúvida que foi facultada a linha. Para a RNOA também foi assignada uma tenda da tropa, que também, sem dúvida estava lá. Agora, o que não compreendo e o porque e que a linha telefónica ia só até à tenda do MCUL se a tenda para a RNOA ficava ainda a uns 50 metros de distância. A RNOA em cima do acontecimento lá ficou “descalça” e com todo o seu equipamento ao ar livre … pois é que para colocar o posto acesso a Internet tivesse de optar por esta via, ou então… ter a tenda a 50 metros, o posto da Internet encostado a tenda do MCUL e os 5 telescópios encostados quase ao fim da piscina. Quanto ao campismo (esta é para rir), ninguém podia acampar no relvado (que por um lado até tem alguma lógica, para não estragar o dito), e quem quisesse acampar dentro do recinto teria de o fazer num local que nem me atrevo a descrever (parecia algumas fotos de Marte). Acho que ninguém gostou da ideia, porque pelo que sei ninguém acampou lá. Restavam duas opções ou ir para o parque de campismo a uns 500mt de distância, o que implicava arrumar todo o material, ou, então fazer directa ou mesmo dormir na relva ao lado do material. Ainda assim, com esta interdição, lá houve quem acampasse, montando as tendas logo ao lusco-fusco. Agora pergunto, era tão difícil assim deixar acampar ali ao menos os membros da organização?
  • Piscina – Esta também é estranha, se os indivíduos queriam vedar o acesso a piscina, porque e que não o fizeram como deve de ser? Porque e que foi dito que podíamos usufruir da piscina e quando chegamos lá e nos dito que ninguém podia ter acesso a menos que fosse a volta e pagasse? Reclamações foram muitas quando os que pagaram no dia anterior, viram outros no dia seguinte a ter acesso grátis.
  • Público – Ao fim da noite, lá pelas 4:00, 5:00, algum do público restante já estava com um nível de álcool no sangue um pouco elevado, fazendo com que os monitores, já de si cansados, tivessem de “aturar” alguns chatos. Mesmo assim, não satisfeitos em chatear lá fizeram desaparecer (sabe-se lá como!) algum material. Por parte da RNOA, lá se “sumiu” perto de 30.000$00 em material.
  • Comunicação Social – Fraco, muito fraco. Só de notar que a Antena 1 fez um bom trabalho. Não notei a presença de um único Jornal (veja-se que não saiu nenhuma notícia nem no DN, JN e O Publico, se saiu noutro, desconheço). Quanto a televisões, apesar da presença única da TVI, tenho a criticar a fraca reportagem ao assunto (mais-valia nem terem ido).
  • Controlo de Entradas – Por volta das 17:00 já toda a gente podia entrar sem pagar…, assim não percebo o para quê das inscrições???? O que acontece e que há muitas reclamações do tipo – « … paguei mil paus para entrar e agora não esta ninguém a controlar à entrada… ». Realmente! Quando tentei pela primeira vez entrar no recinto, havia um indivíduo que controlava a entrada, passado uma hora ou duas desvaneceu-se… Penso que seria de repensar o processo das inscrições, nitidamente não funciona. Uma bilheteira à entrada teria sido mais eficaz.
  • Organização – Podia ter sido muito melhor, mas mesmo muito melhor. Pela RNOA tenho a dizer que foi com muita pena que não participamos activamente (não porque não nos oferecemos, mas porque também sempre o dispensaram) e por isso a organização RNOA teve falhas em alguns aspectos, sendo o mais flagrante o da tenda. Acho que as próximas Astrofestas devem sem dúvida ter uma participação muito mais activa de todos os grupos pertencentes a organização ASTROFESTA. Assim não serão atribuídas as desgraças e falhas a só um dos grupos, mas sim a todos, tal como os louros da vitória.

Errar é humano e é com os erros que se aprende.

Pelo que sei está-se a pensar em realizar no próximo ano numa ASTROFESTA, com vários locais de observação no país, com ligação dos locais via TV. Sim e algo de inovador, mas, será que a comunidade de Astrónomos Amadores (as Associações e Grupos) está preparada para este tipo de Astrofesta? Não estaremos a cair também na Regionalização? Não estaremos assim separar-nos uns dos outros a pouco e pouco para que comodamente fiquemos na nossa terra? Se estivéssemos na América onde as distâncias de estado para estado são enormes concordaria, mas em Portugal haverá necessidade desta “separação”?

Ainda é tão difícil organizar uma única Astrofesta num único local de Portugal, quanto mais organizar nem que seja 5 ao mesmo tempo.

Sou de opinião que deveríamos atingir um grau de aperfeiçoamento primeiro, neste tipo de Astrofesta tradicionais. Não, não sou contra a ideia de Astrofestas regionais, acho que devem existir, elas serão o treino para a nossa Astrofesta. Penso que daqui a 2 anos já teremos uma Astrofesta muito bem organizada e com muito menos percalços.

Bem, não queria acabar sem pedir que façam as suas opiniões, se tenho alguma razão ou se estou totalmente errado.

Outras Astrofestas anteriores e posteriores:

– Serra d’Ossa, 10 e 11 de Setembro de 1994,
– Constância, 2 e 3 de Setembro de 1995,
– Barragem do Roxo (Aljustrel), 24 e 25 de Agosto de 1996,
– Serpa, 6 e 7 de Setembro de 1997,
– Pego do Altar (Alcácer do Sal), 29 e 30 de Agosto de 1998,
– Gouveia, 22 e 23 de Agosto de 1999,
– Esposende, 1, 2 e 3 de Setembro de 2000,
– Marinha Grande, 24, 25 e 26 de Agosto de 2001,
– Nisa, 18 e 19 de Agosto de 2002.
– Constância, 2003
– Évora Monte – Estremoz, 2004
– Lamas de Mouro – Melgaço, 2005
– Proença-a-Nova – Castelo Branco, 2006
– Constância, 2007

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