Velhos Tempos

Moinho Abandonado

Moinho Abandonado

Moinho Abandonado
Paulino de Figueiredo

Um monte à beira do mar,
Que se alonga, no horizonte
Imenso, belo, azulado,
Lá no mais alto do monte,
Um moinho abandonado.

Rodou, rodou tanto, tanto,
De velas largas, no monte,
E tanto milho moeu,
Que a rodar gastou os anos,
E a moer envelheceu.

Foi rico. Teve já oiro
Aos sacos e às arcas cheias.
Mas espalhou seu tesoiro
– Farinha do milho loiro –
Por casais e por aldeias.

Tantos a quem, sem contar,
Deu seu suor e o seu pão,
A mãos largas, sem usura,
Nem um o vem visitar,
Ninguém agora o procura.

Ali está triste, triste …
Nesse desgosto profundo
De quem traz no coração,
Cravado, pungente, fundo,
O espírito da ingratidão.

Um dia o pobre-coitado
De tão cansado, parou.
Esqueceu-o o povoado,
E até mesmo o moleiro
Ingrato, o abandonou!

Búzios e cordas quebraram.
Foram-se-lhe as mós e as velas,
O capelo, o mastro e a porta,
Que tudo aos pobres levaram
Os anos, mais as porcelas!

Lembra-me aquele moinho,
Tal qual assim alguém,
– Mágoa que nada consola –
Que vivendo a trabalhar
Acaba a pedir esmola.

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3 Comentários

    1. Olá. Fica em Porto de Mós, que aliás, nesta altura do ano está muito bonito por lá. Todo carregado de um verde primaveril.

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