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O Mistério do Assassino da Forquilha

A forquilha de 2 dentes estava espetada no pescoço e prendia-o ao chão. No seu peito exposto, estava enterrada profundamente a lâmina do corta-sebes. O rosto do velhote já sem vida crispava-se numa expressão de terror.

Estávamos em 1945, a 14 de Fevereiro, uma quarta-feira dia de trabalho normal para Walton.

Local onde foi encontrado Charles Walton

Charles Walton nasceu a 12 de Maio de 1870, filho de Charles e Emma Walton. Agora com quase 75 anos, era apenas um velhote inofensivo e simpático, um trabalhador agrícola, tal como qualquer outro velhote que se poderia encontrar numa outra qualquer aldeia inglesa que ainda não tivesse sido alcançada pelo ritmo da vida moderna.

Viúvo, dividia com a sobrinha – Edith Isabel Walton de 33 anos tinha sido adoptada por ele há mais de trinta anos após a morte da sua mãe – uma vivenda de telhado de colmo situada no número 15 em Lower Quinton, no Warwickshire, lugar onde viveu toda a sua vida. Ganhava o suficiente para prover à sua subsistência e à dela executando vários trabalhos pelas herdades ao preço de 18 dinheiros por hora e nos nove meses anteriores, tinha trabalhado para um fazendeiro local, Alfred Potter, cuja fazenda era conhecida como “The Firs”.

Não era de todo um frequentador assíduo das tabernas locais, preferia comprar cidra em garrafões de 5l e beber sozinho, junto ao lume, na sua cozinha. Era um homem, como vulgarmente se diz na região, “muito metido contigo mesmo” era um tipo solitário. O velho Walton, que não apreciava exageradamente a companhia humana, sentia-se mais feliz no campo, só com a Natureza. Era capaz de passar horas a fio a conversar com as aves – e acreditava que estas o entendiam. Não apreciava cães, mas na sua horta criava sapos – uma espécie de dimensões consideravelmente grandes. Segundo referia uma lenda local, que todos na região conheciam, prendia-os a uma pequena charrua e seguia-os através dos campos.

A casa de Charles Walton

Nesse fatídico dia, saiu de casa de manhã bastante cedo – ele caminhava com a ajuda de uma bengala, a sua idade e o reumático assim o obrigavam – com uma forquilha e um corta-sebes – um instrumento de poda de dois gumes com uma lâmina recta afiada de um lado e uma lâmina côncava do outro. A caminho do seu local de trabalho, é visto a atravessar o adro da igreja entre 9h e as 9h30. Nesse dia em particular, ele estava a cortar sebes num campo conhecido como Hillground nas encostas de Meon Hill.

Edith Walton esperava que Walton seu tio, chegasse a casa por volta das 16h nesse dia. Ela voltou do seu trabalho para casa por volta das 18h e Walton não estava lá como seria suposto. A sua natureza solitária e os hábitos regulares não lhe deram o consolo de que ele pudesse estar no pub local ou a visitar um qualquer amigo.

Rapidamente e preocupada foi ter com o seu vizinho, um também trabalhador agrícola chamado Harry Beasley que morava no número 16 da Lower Quinton. Juntos, foram até ao “The Firs” para falarem com Alfred Potter. Potter afirmava ter visto Charles pela última vez ao início do dia, a cortar sebes em Hillground. Os três partiram na direcção do local onde Charles tinha sido visto pela última vez e, encontraram-no.

O seu corpo estava perto de uma cerca viva. Era uma cena macabra!

O assassino tinha batido na cabeça de Walton com a sua própria bengala, de tal forma que parte do seu crânio estava literalmente esmagado. Tal não bastasse, o seu pescoço tinha as pontas da forquilha enfiadas em cada um dos lados, prendendo-o ao chão. A lâmina do corta-sebes que estava enterrada no peito, tinha sido usada antes para cortar na sua garganta uma forma de cruz.

O local do crime.
Fabian of the yard by Robert Fabian

Foi assim que encontraram Charles Walton, vítima possivelmente daquilo que teria sido o último crime ritualístico de feitiçaria na Grã-Bretanha. Durante muitos meses, o detective chefe Fabian – o famoso Fabian da Scotland Yard – dirigiu a investigação do crime. Mas até hoje ignora-se ainda que o terá cometido e quais as reais motivações. Continua a ser um enigma, horroroso na sua selvajaria e envolto numa atmosfera de terror místico.

Rumores de feitiçaria e ritos pagãos

Os dois relatórios que Fabian escreveu sobre o caso em 1945 e que estão preservados no arquivo da polícia, não fazem dele menção a bruxaria, matança ritualística, cães negros, sapos-negros ou sacrifícios de sangue. No entanto, vinte e cinco anos depois ele escreveu os seguinte:

“Aconselho a qualquer pessoa que seja tentada a qualquer momento a se aventurar na magia negra, bruxaria, xamanismo – chame-lhe o que quiser – que se lembre de Charles Walton e pense em sua morte, que foi claramente o clímax horrível de um rito pagão. Não há nenhum argumento mais forte para se manter o mais longe possível dos vilões com suas espadas, incenso e mumbo-jumbo. É da prudência que pode depender a sua futura paz de espírito e até a sua vida.”

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Alegadamente Fabian estava familiarizado com peças da história local. Uma delas está relacionada com o assassinato de Ann Tennant por James Heywood, alegando que ela era uma bruxa. Em muitos relatos, tem sido erroneamente alegado que Ann foi presa ao chão com uma forquilha e cortada com um gancho. Além disso, o detective superintendente Alec Spooner, chefe do C.I.D. de Warwickshire, teria atraído a atenção de Fabian para um livro de 1929 intitulado “Folklore, Old Customs and Superstitions in Shakespeare Land”, escrito pelo Reverendo James Harvey Bloom, Reitor de Whitchurch e pai da autora Ursula Bloom.

Lá incluía a história de como, em 1885, um jovem lavrador chamado Charles Walton havia conhecido um cachorro preto fantasma no seu caminho para casa do trabalho várias noites consecutivas. Na última ocasião, o cachorro estava acompanhado por uma mulher sem cabeça. Naquela noite, Walton havia sabido que sua irmã havia morrido.

Entre as teorias e rumores que cercaram este caso nos anos subsequentes estão as seguintes:

  • Foi alegado que os habitantes locais acreditavam que Walton era feiticeiro cujos poderes eram temidos por alguns moradores.
  • Foi alegado que ele podia lançar o mau-olhado e manter sapos-negros como animais de estimação e usá-los para “explodir” e arruinar as plantações e o gado dos fazendeiros locais. Dois exemplos citados foram o fracasso da colheita de 1944 e a morte de uma novilha de Potter a 13 de Fevereiro.
  • Foi alegado que esta suposta feitiçaria o levou a ser assassinado de uma maneira ritualística que envolvia seu sangue imerso no solo para “repor a fertilidade do solo”.
  • O folclore local afirmava que cães pretos fantasmas vagueavam pela área e eram um prenúncio da morte.
  • Foi alegado que, logo após o assassinato de Walton, que um cachorro preto foi encontrado pendurado numa árvore perto da cena do crime. Fabian escreveu a certa altura que encontrou um cachorro preto enquanto caminhava ao anoitecer em Meon Hill. A história que ele contou foi que um cachorro passou a correr por ele e logo depois encontrou um garoto local andando na mesma direcção. Ele perguntou ao garoto se ele estava à procura do seu cachorro, mas quando Fabian mencionou a cor do animal, o garoto ficou mortalmente pálido e fugiu na direção oposta.
Murder by Witchcraft - Donald McCormick - A Font of Inaccuracies

Donald McCormick, que escreveu um livro sobre o terrível crime, “Murder by Witchcraft”, alimentou fortes suspeitas acerca da identidade do criminoso. O mesmo aconteceu com Fabian. No entanto nunca foi possível encontrar provas que justificassem uma acção judicial.

As ligações com bruxaria e feitiçaria ganharam notoriedade considerável no caso ao longo dos anos por causa da forma em como o corpo foi encontrado. As histórias sobre a comunhão do velho Walton com as aves, a sua criação de sapos que puxavam charruas e uns murmúrios sinistros, alimentaram a ideia de que fora morto por ser feiticeiro.

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