A história do detetive menos convencional que cativou gerações de leitores
Se há um nome que ressoa com força no mundo dos comics, é o de Alex Raymond. Um homem de múltiplos talentos, Raymond não só desenhou como também escreveu histórias que continuam a encantar milhares de leitores em todo o mundo. Poucos artistas alcançaram o seu nível de genialidade, e nenhum criou tantos heróis icónicos: Agente Secreto X-9, Jim das Selvas, Flash Gordon e, claro, Rip Kirby.
Em 1944, no auge da sua carreira, Raymond deixou temporariamente o mundo dos comics para se alistar nos Marines dos Estados Unidos, servindo bravamente no Pacífico Sul durante a Segunda Guerra Mundial. Dois anos depois, desmobilizado e cheio de novas experiências, regressou ao que mais o apaixonava: criar. Decidido a conceber um novo tipo de herói, com a inteligência e coragem de X-9, mas com maior profundidade humana, nasceu Rip Kirby, o detetive que viria a revolucionar as histórias aos quadradinhos.
A primeira tira de Rip Kirby foi publicada em 4 de março de 1946. Nela, vemos a página de um jornal exibindo a fotografia de um oficial americano condecorado pela sua atuação brilhante na guerra do Pacífico. Assim, somos apresentados a Remington “Rip” Kirby, um homem de ciência, investigador particular e ex-oficial dos Marines, que regressa à vida civil em Nova Iorque.
Ao seu lado está Desmond, o seu fiel criado e ex-marginal regenerado. As habilidades de Desmond, adquiridas na sua antiga vida de crime—especialmente a destreza em arrombar qualquer fechadura—tornam-no um aliado inestimável. Desmond é o contraponto perfeito à natureza analítica de Rip, trazendo humor e cor às aventuras do detetive, tal como o Dr. Watson faz com Sherlock Holmes.
Rip Kirby é mais do que um simples detetive; é um cavalheiro culto e sofisticado. Aprecia golfe, xadrez, música clássica e literatura de qualidade. Fuma o seu inseparável cachimbo e usa óculos, dando-lhe uma aparência comum que esconde uma mente brilhante. Solteirão convicto, Rip está sempre rodeado de mulheres deslumbrantes que poderiam fazer qualquer um perder a cabeça. Durante anos, manteve um romance com a radiante Honey Dorian, partilhando perigos e aventuras sem nunca chegar ao casamento tão esperado pelos leitores. Outra figura marcante é Pagan Lee, também conhecida como Madelon, uma morena sensual com um passado ligado ao sinistro Mangler, um dos mais implacáveis inimigos de Rip.
As aventuras de Rip Kirby são recheadas de suspense e ação. Com uma pontaria infalível e habilidade nos punhos digna de um pugilista, enfrenta chantagistas, raptores e criminosos de todo o tipo. O realismo e a profundidade das histórias de Raymond mantinham os leitores na ponta dos assentos, graças ao seu talento único para retratar diferentes tipos humanos e criar enredos cativantes.
Infelizmente, quando a carreira de Alex Raymond estava no seu apogeu, o destino interveio tragicamente. Em 6 de setembro de 1956, Raymond sofreu um acidente fatal ao volante do seu carro desportivo perto de Westport, Connecticut. Deixou inacabado o episódio “O Elixir da Juventude“, um dos muitos que encantaram leitores em todo o mundo. Na última vinheta que desenhou, publicada postumamente em 29 de setembro, uma personagem profere palavras que agora soam proféticas: “Más notícias. Receio ter de abandonar o meu trabalho…“
Apesar da sua morte prematura, o legado de Alex Raymond perdura. Com Rip Kirby, elevou a arte dos comics a novos patamares, combinando um estilo gráfico inovador com narrativas profundas e personagens memoráveis. O equilíbrio perfeito entre luz e sombra, o detalhe nas ilustrações e o estudo cuidadoso das personagens abriram novos horizontes para o género policial e de aventura nos quadradinhos.
Alex Raymond não foi apenas um criador de heróis; foi um visionário que mudou para sempre o panorama das histórias aos quadradinhos. Rip Kirby é a personificação desse legado—um detetive sofisticado, humano e cativante, cujas aventuras continuam a fascinar-nos. Se ainda não mergulhou no mundo de Rip Kirby, este é o momento perfeito para descobrir uma das obras-primas dos comics.
