No passado dia 29 de março de 2025, os céus de Portugal ofereceram-nos um vislumbre de uma das mais belas danças cósmicas: um eclipse solar parcial. Mesmo que não tenha sido um “apagar” total do Sol, a visão da Lua a “morder” um pedaço da nossa estrela é sempre um momento de admiração e uma oportunidade para refletirmos sobre o nosso lugar neste vasto Universo.
Se perdeu o evento ou simplesmente quer saber mais sobre este fenómeno fascinante, está no sítio certo! Vamos embarcar numa viagem para desvendar os segredos dos eclipses.
O Que Aconteceu no Céu a 29 de Março?
Nesse sábado de manhã, por volta das 9h40 (hora de Lisboa), a Lua começou a sua lenta travessia em frente ao disco solar, vista da nossa perspetiva terrestre. O ponto máximo do eclipse, onde a maior percentagem do Sol esteve coberta, variou ligeiramente dependendo da localização exata, mas ocorreu sensivelmente a meio do evento. O espetáculo terminou por volta das 11h35, quando a Lua completou a sua passagem e o Sol voltou a brilhar em toda a sua glória habitual.
Foi um eclipse parcial, o que significa que a Lua não cobriu completamente o Sol. Ainda assim, para os observadores atentos (e devidamente protegidos!), foi possível notar uma ligeira diminuição da luz ambiente e, claro, a silhueta inconfundível da Lua a sobrepor-se ao Sol.






Eclipses Solares vs. Eclipses Lunares: Uma Questão de Alinhamento
O Universo é um ballet de órbitas e alinhamentos. Os eclipses acontecem quando um corpo celeste bloqueia a luz de outro.
- Eclipse Solar: Ocorre quando a Lua se posiciona entre a Terra e o Sol, projetando a sua sombra sobre uma parte do nosso planeta. Para que isto aconteça, é necessário que seja Lua Nova. A Lua, embora muitíssimo menor que o Sol (cerca de 400 vezes menor em diâmetro), está também cerca de 400 vezes mais próxima da Terra. Esta incrível coincidência cósmica faz com que, vistos da Terra, a Lua e o Sol pareçam ter aproximadamente o mesmo tamanho no céu!

- Eclipse Lunar: Acontece quando a Terra se posiciona entre o Sol e a Lua, projetando a sombra do nosso planeta sobre a Lua. Isto só pode ocorrer durante a fase de Lua Cheia. A Lua adquire frequentemente uma tonalidade avermelhada durante um eclipse lunar total, a famosa “Lua de Sangue”, devido à refração da luz solar na atmosfera terrestre.

A principal diferença reside em quem está a bloquear a luz e quem está a ser obscurecido. No solar, a Lua bloqueia o Sol; no lunar, a Terra bloqueia a luz solar que chegaria à Lua.
Parcial vs. Total: Nem Todos os Eclipses Solares São Iguais
A sombra da Lua projetada na Terra durante um eclipse solar tem duas partes: a umbra (a parte mais escura e central da sombra) e a penumbra (a parte mais clara e exterior).
- Eclipse Solar Total: Ocorre quando o observador se encontra na faixa da umbra. A Lua cobre completamente o disco solar. O céu escurece dramaticamente, as estrelas e planetas mais brilhantes podem tornar-se visíveis, e a magnífica coroa solar (a atmosfera exterior do Sol) revela-se em redor da silhueta escura da Lua. É um dos espetáculos mais impressionantes da natureza! A faixa da totalidade é geralmente muito estreita, com apenas algumas dezenas ou centenas de quilómetros de largura.

- Eclipse Solar Parcial: Acontece quando o observador está na zona da penumbra. A Lua cobre apenas uma parte do Sol. Foi o que tivemos a oportunidade de observar em Portugal no dia 29 de março. A quantidade do Sol coberta depende de quão perto se está da trajetória da umbra (se houver uma nesse eclipse em particular noutra parte do globo).

- Eclipse Solar Anular: Existe ainda um terceiro tipo! Devido à órbita elíptica da Lua, a sua distância à Terra varia. Se um eclipse solar ocorre quando a Lua está mais distante (no seu apogeu), o seu tamanho aparente no céu é ligeiramente menor que o do Sol. Mesmo que o alinhamento seja perfeito, a Lua não consegue cobrir totalmente o Sol, deixando um “anel de fogo” brilhante visível em redor da Lua.

O eclipse de 29 de março de 2025 foi apenas parcial para a nossa localização. A sombra principal da Lua (umbra) não passou sobre Portugal.
Olhar Para o Sol: A Segurança em Primeiro Lugar!
NUNCA, JAMAIS, olhe diretamente para o Sol sem proteção adequada, mesmo durante um eclipse total ou mesmo parcial!
A radiação solar intensa pode causar danos permanentes e irreversíveis à sua retina (retinopatia solar), levando à cegueira, mesmo que não sinta dor no momento. Óculos de sol comuns, películas fotográficas, radiografias, CDs ou vidros fumados NÃO SÃO SEGUROS.
Como observar em segurança:
- Óculos de Eclipse Certificados: Utilize óculos específicos para observação solar que cumpram a norma internacional ISO 12312-2. Verifique sempre se não estão riscados ou danificados antes de usar.

- Vidro de Soldador: Vidros de máscara de soldador com tonalidade número 14 ou superior oferecem proteção adequada. Certifique-se do número antes de usar.

- Projeção Pinhole (Buraco de Agulha): É o método mais simples e seguro. Faça um pequeno furo (com um alfinete) numa folha de cartão ou cartolina. De costas para o Sol, segure este cartão de forma a que a luz solar passe pelo furo e projete uma pequena imagem do Sol numa segunda folha de cartão (ou numa parede branca) colocada a alguma distância. Verá a imagem do Sol projetada, incluindo a “mordida” da Lua durante o eclipse. Não olhe para o Sol através do furo! Olhe apenas para a imagem projetada.

- Projeção com Binóculos ou Telescópio: Pode projetar uma imagem ampliada do Sol através de binóculos ou de um telescópio para uma superfície branca. NUNCA olhe diretamente para o Sol através de binóculos ou telescópios sem filtros solares adequados e especificamente desenhados para esse fim, colocados na frente da ótica (objetiva). Filtros inadequados ou colocados na ocular podem estilhaçar devido ao calor intenso e causar cegueira instantânea. Se não tem a certeza, use o método de projeção ou procure um evento organizado por astrónomos amadores ou profissionais.
Fotografar o Eclipse:
Fotografar o Sol também exige precauções. Precisa de um filtro solar adequado (que cumpra a norma ISO 12312-2) para colocar na frente da lente da sua câmara (DSLR, mirrorless ou até smartphone com adaptador). Sem este filtro, a luz solar concentrada pode danificar permanentemente o sensor da câmara e, se estiver a usar uma DSLR com visor ótico, também os seus olhos!
Um Universo de Maravilhas
Eclipses como o que testemunhámos recentemente são lembretes poderosos da dinâmica celeste que nos rodeia. São a prova visível de que vivemos num planeta que orbita uma estrela, acompanhado por uma Lua, num ballet cósmico que dura há milhares de milhões de anos.
Embora o eclipse de 29 de março tenha sido “apenas” parcial para nós, cada vislumbre destes eventos é uma janela para a grandiosidade do cosmos. Que continuemos a olhar para cima (com segurança!), com curiosidade e admiração.
Até à próxima aventura celestial!