O meu sonho de criança sempre foi “querer ser astronauta”. Esses meus sonhos alimentados pelas séries de FC dos anos 80/90 levavam-me a querer viajar para planetas distantes, e no meu imaginário, como em muitos autores de ficção, Marte aqui ao lado, o planeta vermelho, era o destino final de aventuras inesquecíveis de uma imaginação fértil.
Depois do ser humano ter ido à Lua, Marte seria sem qualquer dúvida o próximo destino lógico.
A infância passou, o mundo mudou – radicalmente devo dizer, e a ideia de querer ir a Marte parece agora uma ideia disparatada porque ignora prioridades, desafia a lógica prática e reflete uma teimosia em sonhar com o impossível enquanto o possível aqui na Terra continua por resolver. É quase como correr atrás de um unicórnio num deserto. Vejamos:
Desperdício de recursos financeiros
Querer ir a Marte é apenas mais uma demonstração escandalosa de como o ser humano pode ser – estúpido. É estar a priorizar devaneios espaciais em vez de enfrentar os problemas gritantes que temos aqui na Terra. Mas vamos aos números para perceber a dimensão desta idiotice: as missões a Marte custam rios de dinheiro. A NASA, por exemplo, despejou mais de 2,5 mil milhões de dólares no rover Curiosity e outros 2,7 mil milhões no Perseverance. Isso é só o aperitivo. Para missões tripuladas, o preço dispara para níveis absurdos: Elon Musk, o profeta das viagens espaciais, estima que levar humanos a Marte pode custar entre 100 mil milhões e 10 biliões de dólares. Biliões! Agora imaginem o que esse dinheiro podia fazer por um planeta que já temos debaixo dos pés e que está a cair aos pedaços.

Fome no mundo: segundo a ONU, acabar com a fome até 2030 exige um investimento de 267 mil milhões de dólares por ano. É muito? Sim, mas é uma gota no oceano comparado com os biliões que se querem gastar para mandar meia dúzia de astronautas a um deserto vermelho onde ninguém vive. Enquanto há gente a morrer à fome, nós sonhamos em cultivar batatas em Marte. É uma estupidez tão grande que quase dá vontade de rir.
Crise climática: o IPCC calcula que para limitar o aquecimento global a 1,5°C, precisamos de 2,4 biliões de dólares por ano até 2035. Um valor elevado, sem dúvida, mas ridiculamente mais sensato do que queimar biliões em Marte. Podíamos investir em energias renováveis, reflorestação ou tecnologias verdes para salvar o único planeta habitável que temos. Em vez disso, preferimos brincar aos colonizadores espaciais. É como estar numa casa em chamas e gastar o dinheiro do seguro numa viagem ao Saara.
Desigualdade: a Oxfam aponta que os 10% mais ricos do mundo detêm 76% da riqueza global. Esse dinheiro podia ser usado para criar um mundo mais justo, com acesso universal a educação, saúde e oportunidades. Mas não, achamos é muito mais fixe financiar os caprichos de bilionários que querem ser os primeiros a deixar pegadas em Marte. É um luxo inútil, um circo espacial para distrair das prioridades reais.
Claro, que há quem defenda que ir a Marte traz avanços tecnológicos. Dizem que as missões Apollo nos deram telemóveis e computadores melhores. Ok, mas precisamos mesmo de ir a Marte para inovar? Não podemos investir em ciência e tecnologia diretamente aqui na Terra, sem o espetáculo dos foguetões? E a inspiração para as gerações futuras? Sim, é bonito motivar miúdos a estudar ciência, mas eles também podem ser inspirados a resolver a crise climática, a pobreza ou as doenças. Não é preciso um planeta novo para isso.
Querer ir a Marte é simplesmente estúpido porque é um poço sem fundo que engole recursos desesperadamente necessários na Terra. Gastar fortunas numa fantasia espacial enquanto ignoramos fome, aquecimento global e desigualdade é como jogar o salário na lotaria com a conta bancária a zeros. Uma idiotice cara, irresponsável e completamente descolada da realidade. Mas mesmo assim, se quisermos lá ir ainda temos os
Riscos absurdos para os astronautas
Os riscos para os astronautas numa missão a Marte são simplesmente absurdos, beirando o irresponsável. Não se trata apenas de desafios técnicos ou logísticos, mas de perigos reais que colocam vidas humanas em jogo de uma forma quase incompreensível.
Radiação: Uma ameaça silenciosa e implacável: No espaço, os astronautas ficam expostos a níveis extremos de radiação cósmica, algo de que estamos protegidos na Terra graças à atmosfera e ao campo magnético. Durante a viagem a Marte, que pode durar entre seis e oito meses só de ida, e mais o mesmo tempo de volta, além do período no planeta, essa exposição é constante. Raios cósmicos, partículas de alta energia vindas do espaço profundo, atravessam o corpo como balas microscópicas, danificando o DNA. Isso aumenta drasticamente o risco de cancro, e pode causar problemas neurológicos e até afetar a visão. Não há blindagem prática que elimine completamente esse risco numa nave espacial, e em Marte, com a sua atmosfera fina e falta de campo magnético, a proteção é mínima. É como jogar a roleta russa com a saúde dos astronautas, mas com balas invisíveis.
Gravidade: O corpo humano não foi feito para a falta dela: Marte tem apenas 38% da gravidade da Terra, o que pode parecer interessante à primeira vista, mas é devastador para o corpo humano a longo prazo. Em ambientes de baixa gravidade, como já vimos em astronautas na Estação Espacial Internacional, os ossos perdem densidade, os músculos atrofiam e o coração enfraquece porque não precisa trabalhar tanto. O sistema imunológico também fica comprometido, tornando os astronautas mais vulneráveis a doenças. Passar meses ou anos em Marte seria como acelerar o envelhecimento do corpo, com efeitos que podem ser irreversíveis. Para quê? Para viver num planeta onde o corpo humano simplesmente não pertence?
Psicologia: Uma prisão flutuante no vazio: A viagem a Marte é um teste brutal de resistência mental. Imagine ficar confinado numa nave minúscula por seis a oito meses, sem privacidade, sem gravidade, sem ar fresco ou luz natural, e com o mesmo grupo pequeno de pessoas o tempo todo. É uma receita para o desastre psicológico. Estudos sobre isolamento mostram que situações assim levam a altos níveis de stresse, ansiedade, depressão e até conflitos interpessoais. Se alguém tiver um colapso mental, não há saída, não há ajuda imediata, não há como “voltar para casa”. E isso é só a ida – repetir o processo na volta dobra o risco. A sanidade dos astronautas seria sacrificada por uma missão que, no fundo, é mais simbólica do que prática.

Aterragem: Um salto no escuro: Chegar a Marte é só metade do problema; pousar é um pesadelo à parte. A atmosfera do planeta é fina demais para oferecer resistência suficiente para desacelerar uma nave como fazemos na Terra com paraquedas ou travagem atmosférica, mas densa o suficiente para gerar calor extremo durante a entrada. É uma margem de erro minúscula: um cálculo errado, um defeito no equipamento, ou uma rajada de vento marciano, e a nave pode colidir com a superfície a uma velocidade catastrófica. Não há “tentativa dois” no espaço. O risco de perder a tripulação inteira na aterragem é altíssimo, tornando essa etapa uma aposta com vidas humanas.
Um sacrifício sem sentido: Esses riscos – radiação letal, degradação física, colapso psicológico e aterragem incerta – não são hipóteses remotas; são realidades comprovadas pela ciência e pela experiência em missões espaciais. Enviar astronautas a Marte é como mandá-los para uma armadilha mortal disfarçada de aventura heroica. E para quê? Para satisfazer a vaidade humana de “conquistar” um planeta estéril? Os astronautas não seriam exploradores; seriam cobaias numa experiência cara e perigosa. É um risco absurdo que não justifica o custo – nem em termos de recursos, nem, sobretudo, em termos de vidas humanas. Mas, vamos assumir que tudo corre bem e a tripulação chega e consegue aterrar em segurança.

Marte é um planeta inóspito e inútil no curto prazo
Marte é um planeta extremamente hostil e, no curto prazo, não oferece qualquer utilidade prática para a humanidade. As condições extremas, a falta de recursos acessíveis e a distância colossal da Terra tornam-no um destino impraticável e desprovido de benefícios imediatos.
Condições ambientais extremas: Marte apresenta um ambiente que desafia a sobrevivência humana. A sua atmosfera é incrivelmente fina, composta maioritariamente por dióxido de carbono (95%), com uma pressão inferior a 1% da terrestre, insuficiente para proteger contra a radiação solar ou permitir a respiração. As temperaturas são geladas, com uma média de -60°C, podendo descer até -140°C nos polos. Além disso, tempestades de poeira massivas podem cobrir o planeta durante meses, bloqueando a luz solar e dificultando qualquer atividade. Viver em Marte seria como tentar habitar um deserto gelado e radioativo, exigindo tecnologia avançada apenas para sobreviver ao dia-a-dia.
Ausência de recursos essenciais: Os recursos básicos para a vida são escassos ou inexistentes em Marte. Não há água líquida na superfície — apenas gelo nos polos ou possivelmente subterrâneo, mas de acesso difícil. O solo marciano contém percloratos, substâncias tóxicas que tornam a agricultura inviável sem processos complexos de descontaminação. Oxigénio, comida e materiais de construção teriam de ser transportados da Terra ou produzidos localmente com equipamentos caros e pesados. Esta dependência logística torna qualquer presença humana em Marte um desafio dispendioso e pouco sustentável.
Distância e isolamento: A distância média de Marte à Terra é de cerca de 225 milhões de quilómetros, o que implica uma viagem de seis a oito meses em cada sentido. Estas missões só são viáveis em janelas de lançamento que ocorrem a cada 26 meses, dificultando o envio de mantimentos ou equipas de resgate em emergências. Uma avaria num sistema vital ou um problema de saúde poderia ser fatal, já que o socorro está a meses de distância. Para agravar, a comunicação com a Terra sofre um atraso de até 20 minutos em cada direção, impossibilitando decisões em tempo real. Marte é, essencialmente, uma prisão cósmica.
Falta de utilidade imediata: No curto prazo, Marte não oferece vantagens tangíveis. Não possui recursos minerais cujo transporte para a Terra compense os custos astronómicos envolvidos. Economicamente, é um investimento sem retorno. Embora a exploração científica com sondas e rovers tenha valor, enviar humanos é desnecessário e exorbitante. Enquanto enfrentamos desafios urgentes na Terra — como as alterações climáticas, a pobreza e as doenças —, despender recursos em Marte parece um luxo injustificável.
Uma prioridade mal colocada: Focar em Marte no curto prazo é uma distração dispendiosa. A narrativa de colonização como “plano B” para a humanidade ignora a necessidade de resolver os problemas do nosso próprio planeta. Os biliões investidos em infraestruturas marcianas poderiam ser usados para melhorar a qualidade de vida na Terra. Marte não é uma solução para a superpopulação ou para crises ambientais; é, por agora, um sonho caro e sem propósito prático.
Marte é inóspito devido ao seu clima implacável, à escassez de recursos e ao isolamento extremo. No curto prazo, é inútil, porque não proporciona benefícios que justifiquem o esforço e o custo envolvidos. Em vez de sonhar com um planeta distante, o foco deveria estar em preservar e melhorar a Terra, o único lar viável que temos atualmente.
Se fizermos uma análise lógica e desapaixonada, só podemos chegar a uma conclusão: a obsessão humana por ir a Marte é um exemplo brilhante da nossa tendência para escolher o circo em vez do pão. Enquanto a Terra nos implora por ajuda — com fome, alterações climáticas e desigualdades a gritarem mais alto do que um megafone avariado —, nós, em vez disso, queremos despejar fortunas num bilhete de ida para um deserto gelado e radioativo. Fantástico, não é?
Os argumentos falam por si:
- Desperdício colossal: Biliões que podiam resolver problemas reais são atirados ao espaço como se fossem confetis numa festa sem fim.
- Riscos absurdos: Astronautas enfrentam radiação que torra células, baixa gravidade que desfaz ossos e um isolamento que destrói mentes — tudo por um prémio de consolação chamado “sobreviver em Marte”.
- Inutilidade gritante: O planeta é uma pedra estéril que, no curto prazo, oferece menos valor do que um terreno baldio no meio do nada.
No fundo, parece que queremos fugir dos nossos problemas, mas com um plano tão genial quanto ir nadar num mar de areia. É uma ambição tão lógica que só podemos aplaudir de pé — ou talvez sentados, a rir da ironia. Ir a Marte? Uma ideia simplesmente estelar, se o objetivo for provar que a humanidade adora um bom fiasco disfarçado de sonho.