Num certo dia no longínquo ano de 2136 a.C., um dragão esfomeado tentou devorar o Sol. O imperador da China e o seu povo estavam aterrorizados.
Tudo começou com uma pequena dentada, que destruiu uma parcela do disco solar. Depois, um quarto, metade, e subitamente o Sol inteiro, tinha desaparecido e restava apenas um estranho círculo de luz branca em torno do espaço negro que o disco incandescente agora ocupava.
Os Chineses estavam assustados mas eram engenhosos e sabiam o que fazer. No estranho crepúsculo em que haviam mergulhado, correram, gritavam a insultar o dragão, tocavam tambores, fizeram soar gongos e instrumentos musicais sagrados, até que o dragão, assustado, lentamente se afastou da refeição ainda por devorar.
O Sol estava salvo, mas o imperador, agora mais enraivecido do que assustado, ordenou imediatamente que os astrónomos imperiais, Hsi e Ho, representados na gravura no serviço ao seu imperador em tempos mais favoráveis, fossem decapitados por o não terem avisado a tempo da aproximação do dragão.
Desde há muito que são motivo de divertimento para os astrónomos os versos de autor anónimo que chegaram até nós como o seu epitáfio:
Aqui jazem Hsi e Ho
De destino triste, mas visível
Foram mortos porque não viram
O eclipse que era invisível.
Esta é a história de dos primeiros registros escritos de eclipses, que é creditado à antiga história chinesa dos astrónomos reais Hsi e Ho. Acreditava-se que os eclipses solares eram o resultado de um grande dragão que devorava o Sol, por isso um aviso prévio era necessário para que o povo preparasse arcos e flechas para evitar a besta.
Hsi e Ho, como astrónomos experientes, deviam ter previsto o eclipse total do Sol observado nessa época na China, uma vez que este ocorre todos os 18 ou 19 anos, como não conseguiram, perderam a cabeça como resultado.
O que sucede é que, movendo-se a Lua em torno da Terra e girando esta em redor do Sol, verifica-se por vezes um alinhamento perfeito dos 3 astros, em consequência do qual a Lua oculta a luz solar, que deixa de se ver da Terra durante um período de tempo que pode prolongar-se até 7,5 minutos.
Cultura Ancestral
Na China antiga, acreditava-se que as ocorrências no céu reflectiam directamente as ocorrências na Terra. Como Filho do Céu, a legitimidade do imperador baseava-se em sua capacidade de predizer fenómenos celestes, em particular o aparecimento de eventos inesperados.
Conforme registrado em num texto compilado entre os séculos IV e I A.C., também acreditava-se que os eclipses solares e lunares eram causados por uma besta “cuja forma se assemelha a um gato selvagem, mas com uma cabeça branca.
É chamado de Cão Celestial e faz barulho como um gato. Pode repelir as forças do mal. “Advertências de eclipses eram consideradas vitais para que pudessem ser feitos preparativos para que as pessoas fizessem barulho a fim de assustar as criaturas que tentavam comer o sol ou a lua. Em chinês, os termos para eclipse solar (rishi 日食) e eclipse lunar (yueshi 月食) terminam com o caractere “comer” (shi 食).
O registro histórico mais antigo de um eclipse solar total é do Japão com data de 628 D.C. e, na Coreia, relatos independentes de eclipses começaram por volta de 700 D.C. Cerimónias eram realizadas para evitar que o Sol e a Lua fossem consumidos, e as representações artísticas costumam associar eclipses a aparições espectrais , como na representação de Yoshitoshi Taisō da heróica senhora Iga no Tsubone enfrentando um fantasma.
