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Messier 3: Uma Joia Estelar nos Céus

Messier 3 (M3) é um dos mais impressionantes enxames globulares visíveis no céu noturno do hemisfério norte. Localizado na constelação de Canes Venatici (Cães de Caça), este aglomerado estelar antigo e denso é um verdadeiro tesouro para astrónomos amadores e profissionais. Com uma idade estimada de 11,4 mil milhões de anos, M3 é uma cápsula do tempo que nos permite vislumbrar os primórdios da nossa galáxia, a Via Láctea.


A Sua Descoberta

Charles Messier, astrónomo francês.

Messier 3 foi descoberto por Charles Messier em 3 de maio de 1764. Messier, um astrónomo francês célebre pela sua busca de cometas, estava a varrer o céu noturno quando se deparou com este objeto difuso. Inicialmente, confundiu-o com um cometa sem cauda, mas rapidamente percebeu que era um objeto fixo e não um corpo celeste em movimento.

A descoberta ocorreu durante uma época em que Messier estava a compilar o seu famoso catálogo de objetos nebulosos, que mais tarde se tornaria conhecido como o Catálogo Messier. M3 foi, na verdade, o primeiro enxame globular descoberto por Messier, marcando o início de uma série de descobertas semelhantes que enriqueceriam significativamente o nosso conhecimento sobre estes objetos celestes.


Visibilidade

Encontrar e observar Messier 3 pode ser uma experiência gratificante para astrónomos amadores. Aqui está um guia passo a passo para localizar este objeto celeste:

Escolha o momento certo:

  • Primavera é a melhor época, especialmente abril e maio.
  • Escolha uma noite sem Lua ou com Lua nova para melhor visibilidade.
  • Aguarde pelo menos uma hora após o pôr do sol para que o céu esteja completamente escuro.

Encontre um local adequado:

  • Procure um local com o mínimo de poluição luminosa possível.
  • Certifique-se de ter uma visão desobstruída da parte norte do céu.

Localize a Ursa Maior:

  • Comece por encontrar a constelação da Ursa Maior (o “Carro Grande”).
  • Esta constelação é facilmente reconhecível e serve como ponto de partida.

Encontre Arcturus:

  • Siga a curva da “pega” da Ursa Maior para baixo até chegar a uma estrela muito brilhante e alaranjada – esta é Arcturus, na constelação de Boötes.

Localize Cor Caroli:

  • Volte à Ursa Maior e trace uma linha imaginária entre as duas últimas estrelas da “caixa” (opostas à “pega”).
  • Siga esta linha para baixo, cerca de duas vezes a distância entre essas estrelas.
  • Chegará a uma estrela brilhante isolada – esta é Cor Caroli, a estrela mais brilhante de Canes Venatici.

Forme o triângulo:

  • M3 forma um triângulo quase equilátero com Arcturus e Cor Caroli.
  • Imagine uma linha entre Arcturus e Cor Caroli.
  • M3 está localizado ligeiramente acima do ponto médio desta linha.

Observação a olho nu:

  • Em condições ideais de escuridão, M3 pode ser visto como um ponto difuso muito ténue.
  • Use a técnica de visão periférica: olhe ligeiramente para o lado do ponto onde espera ver M3, pois os olhos são mais sensíveis à luz fraca na visão periférica.

Observação com binóculos:

  • Use binóculos 10×50 ou maiores para uma melhor visualização.
  • Estabilize os binóculos apoiando os cotovelos ou usando um tripé.
  • Varra lentamente a área onde espera encontrar M3.
  • Procure uma pequena “mancha” nebulosa e circular.
  • M3 aparecerá como uma pequena nuvem difusa e arredondada.
  • Não espere ver estrelas individuais – o enxame parecerá uma “bola de algodão” no céu.

Dica final: Se ainda tiver dificuldades, use uma carta celeste detalhada ou uma aplicação de astronomia no smartphone para ajudar na localização precisa.

Lembre-se, a paciência é fundamental. Pode levar algum tempo para os seus olhos se adaptarem à escuridão e para localizar M3. Com prática, ficará cada vez mais fácil encontrar este fascinante objeto celeste.


Características Notáveis

Messier 3 destaca-se por várias características que o tornam um objeto de estudo fascinante:

  1. Densidade estelar: M3 é um dos enxames globulares mais densos conhecidos, contendo aproximadamente meio milhão de estrelas compactadas numa esfera com diâmetro de apenas 180 anos-luz.
  2. Idade: Com cerca de 11,4 mil milhões de anos, M3 é um dos objetos mais antigos conhecidos na Via Láctea, formado nos primórdios da nossa galáxia.
  3. Brilho: Com uma magnitude aparente de 6,2, é um dos enxames globulares mais brilhantes visíveis do hemisfério norte.
  4. Tamanho aparente: Tem um diâmetro aparente de 16,2 minutos de arco, ocupando uma área no céu equivalente à metade do diâmetro da Lua cheia.
  5. Metalicidade: As estrelas de M3 são pobres em metais, típico de objetos muito antigos formados quando o universo continha principalmente hidrogénio e hélio.
  6. Estrutura interna: M3 apresenta uma concentração central de classe VI numa escala de I a XII, onde I é a mais concentrada. Isto significa que tem uma concentração moderadamente alta de estrelas no seu núcleo.
  7. Velocidade radial: M3 está a mover-se em direção à Terra a uma velocidade de 147 km/s.
  8. Distância: Localiza-se a aproximadamente 33.900 anos-luz da Terra.

Estrelas Notáveis

Messier 3 abriga várias estrelas interessantes e únicas:

  1. Estrelas variáveis: M3 contém pelo menos 274 estrelas variáveis conhecidas, um número excecionalmente alto para um enxame globular. A maioria destas são variáveis RR Lyrae.
  2. V154: Esta é uma das estrelas variáveis mais famosas de M3. É uma variável RR Lyrae com um período de pulsação de aproximadamente 15,28 horas.
  3. Estrelas azuis retardatárias: M3 contém várias “blue stragglers“, estrelas que parecem mais jovens e mais azuis do que seria esperado num enxame tão antigo. Acredita-se que estas estrelas resultem da fusão de duas estrelas ou da transferência de massa entre estrelas binárias.
  4. Gigantes vermelhas: O enxame contém numerosas gigantes vermelhas, facilmente identificáveis pela sua cor avermelhada em imagens detalhadas.
  5. Anãs brancas: Embora difíceis de observar diretamente devido à sua baixa luminosidade, M3 contém muitas anãs brancas, os remanescentes de estrelas que esgotaram o seu combustível nuclear.
  6. Estrela mais brilhante: A estrela mais brilhante de M3 tem uma magnitude aparente de 12,6, sendo visível em telescópios amadores de médio porte sob boas condições de observação.

Factos Curiosos

  1. Nome alternativo: Além de Messier 3 ou M3, este objeto também é conhecido como NGC 5272 no New General Catalogue.
  2. Riqueza em estrelas variáveis: M3 tem o recorde de maior número de estrelas variáveis conhecidas em qualquer enxame globular da Via Láctea.
  3. Órbita galáctica: M3 orbita o centro da Via Láctea a uma distância de cerca de 60.000 anos-luz, muito mais longe do que a maioria dos outros enxames globulares conhecidos.
  4. Ausência de buraco negro: Ao contrário de alguns outros enxames globulares, não há evidências de um buraco negro de massa intermediária no centro de M3.
  5. Estrelas pulsantes: As estrelas variáveis RR Lyrae em M3 pulsam com uma regularidade tão precisa que são frequentemente usadas como “velas padrão” para medir distâncias no universo.
  6. Fotogénico: Devido à sua densidade e brilho, M3 é um alvo popular para astrofotógrafos amadores e profissionais.
  7. Longevidade: Estima-se que M3 permanecerá intacto por vários mil milhões de anos, resistindo às forças de maré da Via Láctea que poderiam desintegrar enxames menos densos.

O Mundo e Portugal na Época da Descoberta

Quando Charles Messier descobriu M3 em 1764, o mundo estava no auge do Iluminismo, um movimento intelectual que enfatizava a razão e o individualismo sobre a tradição.

Contexto Mundial:

  • A Revolução Industrial começava em Inglaterra, transformando a economia global.
  • O Império Britânico expandia-se rapidamente, especialmente na América do Norte e na Índia.
  • A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) tinha acabado de terminar, redefinindo o equilíbrio de poder na Europa e nas colónias.
  • Voltaire, Rousseau e outros filósofos iluministas produziam obras que desafiariam o pensamento tradicional.

Portugal na Época:

  • Portugal estava sob o reinado de D. José I (1750-1777).
  • O país recuperava do devastador Terramoto de Lisboa de 1755, que destruiu grande parte da capital.
  • Sebastião José de Carvalho e Melo, mais tarde conhecido como Marquês de Pombal, era o Secretário de Estado do Reino, implementando reformas significativas.
  • A reconstrução de Lisboa estava em andamento, seguindo planos modernos e racionais inspirados no Iluminismo.
  • O sistema educacional português era reformado, com a expulsão dos Jesuítas em 1759 e a reforma da Universidade de Coimbra em 1772.
  • A economia portuguesa passava por mudanças, com o declínio da era do ouro brasileiro e esforços para diversificar a produção e o comércio.
  • A Inquisição portuguesa, embora ainda ativa, perdia poder sob as reformas pombalinas.

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